Muitos pacientes têm apresentado as mesmas queixas durante essa época de isolamento social: “por quê não consigo dormir/acordar como antes? Me sinto tão cansado(a)/com tanto sono durante o dia, não consigo produzir/trabalhar/estudar!”
Calma, a psicologia explica: você já ouviu falar no termo coping? Não? E mecanismos de defesa?
Mecanismos de defesa são estratégias que o cérebro desenvolve para nos proteger de situações adversas; estes mecanismos podem ser coisas simples, como acelerar as batidas cardíacas quando passando por uma rua escura, ou aquela dor de barriga pouco antes de falar em público.
Os mecanismos de defesa atuam tanto a nível cognitivo, ou seja, ativando reações a nível de pensamento, ou pode se refletir em reações físicas, como os exemplos que citei anteriormente.
Agora que você sabe o que são mecanismos de defesa, que tal deixar eu te contar um pouquinho sobre o que eles têm aprontado com você durante esta quarentena?
Também tenho algumas dicas para te dar sobre como “derrotar” seu próprio cérebro e conseguir se manter ativo durante essa pandemia. Vamos lá?
ANSIEDADE DE ADAPTAÇÃO
CAUSADA POR TEMPOS INCERTOS
Crises de ansiedade ou ataques de pânico são excelentes exemplos de mecanismos de defesa do cérebro para uma situação de extrema angústia: seu cérebro está com tanto medo, que ativa tudo que você precisa para uma possível luta ou fuga: acelera seus batimentos cardíacos com uma descarga de adrenalina, cria a “visão de túnel” em que você enxerga apenas o perigo (ou o que você interpreta como perigoso naquele momento), te dá aquela vontade horrível de “sair correndo”… Enfim, seu cérebro faz de tudo para te proteger da situação de estresse.
Agora voltemos um pouco no tempo e vejamos como tudo isso nos torna procrastinadores durante a quarentena: nossa sociedade como um todo se desenvolve porque, resumidamente, todos somos criados com o conceito de que devemos sempre ser produtivos, ter um objetivo e nos mover para alcançá-lo, certo?
Desejar correr atrás de um objetivo, ter prazos a cumprir, tudo isso gera o que chamamos de ansiedade saudável, ou seja, queremos cumprir nossas obrigações dentro do prazo determinado. O ser humano é movido a objetivos, seja na vida profissional, seja na pessoal. Começamos um livro querendo termina-lo, entramos na faculdade pensando no primeiro emprego, e por aí vai.
Porém, com a quarentena, iniciamos com algumas restrições que iriam durar 10 dias, depois 15, 1 mês, 2 meses… A previsão atual é de que o estado de calamidade pública dure até dezembro!
E desta forma, lá se vão nossos planos por água abaixo… As datas das provas na escola, a tão sonhada formatura, outros têm preocupações mais imediatas, como o salário do mês que vem. É nesse momento que começam a aparecer as diferenças nos mecanismos de defesa de cada um. Quem está em regime de quarentena, com os estudos ou o trabalho suspenso, perdeu todos os seus objetivos a curto e médio prazo. E ainda, há aquela nuvem negra flutuando, a ameaça invisível da doença que paira sobre nossas cabeças e pensamentos o tempo todo.
Não ajuda em nada o pânico, consumir toda e qualquer notícia com mais e mais casos de contágio, de morte, etc. E não estamos, aqui, defendendo a alienação, ou o “fingir que nada está acontecendo”. Porém, é necessário que tenhamos uma estratégia de enfrentamento racional e condizente com a situação real, e não nos deixemos levar pelo medo: ele não costuma ser o melhor conselheiro.
Agora que você entende um pouco o que o seu cérebro é capaz de fazer, te convido a imaginar comigo que você conseguiu, sim, manter sua rotina hoje: acordou cedo, tomou café, se arrumou para o trabalho/escola, e… Lembrou que tem que ficar em casa, afinal, estamos de quarentena, rsrs.
Quando você tenta dormir num horário regulado, acordar cedo, arrumar a mesa do café, vem lá no fundinho aquele pensamento “para quê? Não temos nenhum compromisso hoje”. Perceba como é totalmente diferente de quem manteve sua rotina de trabalho, que tem, sim, objetivos para aquele dia/semana/mês.
Sem um objetivo, não temos porquê nos manter em movimento.
Não há prazos definidos, e mesmo as obrigações de quem trabalha ou estuda em casa não parecem “tão obrigatórias assim”, não é mesmo?
Afinal, você consegue cumpri-las na sua casa, às vezes até mesmo na cama, de pijama.
6
ESTRATÉGIAS
PARA MANTER
A MOTIVAÇÃO E A PRODUTIVIDADE
DURANTE O ISOLAMENTO SOCIAL
Agora que entendemos a causa, vamos falar um pouco sobre como lidar com a falta de motivação durante a quarentena e seu isolamento social.
1
ESTABELEÇA UMA ROTINA
A primeira estratégia é estabelecer uma rotina: você não precisa necessariamente voltar à sua rotina anterior, nos mesmos horários (e dificilmente vai conseguir, seu cérebro vai fazer de tudo para que você durma mais meia horinha, ou assista só mais um tiktok antes de dormir), mas defina para si uma “rotina de quarentena”.
Escolha um horário confortável para acordar, tome café, mesmo que seja às 10hs, defina horários para o “ócio criativo” (sim, estou falando de ficar nas redes sociais vendo memes) e, o mais importante, defina pequenas metas para sua quarentena.
Escolha um livro para ler, uma série para maratonar, arrumar o guarda-roupas, quem sabe perder aqueles 3kgs que ganhou aprendendo a fazer bolo?
Vale tudo, desde que te ajude a ter objetivos curtos
e que te dêem a sensação de “dever cumprido” no final do dia.
2
ESTABELEÇA OBJETIVOS CURTOS E ALCANÇÁVEIS
Estabelecer objetivos curtos e alcançáveis é a segunda estratégia para lidar com a procrastinação. Principalmente para pessoas ansiosas, metas de longo prazo não nos impulsionam no dia a dia: “sim, é ótimo que em 5 anos terei uma profissão, mas preciso de motivação para assistir a aula de hoje!”.
Todos temos objetivos, mas é importante viver um dia de cada vez para que possamos nos visualizar chegando mais perto daquele diploma, da viagem de fim de ano, o intercâmbio no Canadá…
Divida seus objetivos de longo prazo em pequenas metas que possam ser cumpridas em, no máximo, 1 semana. Planners ou calendários são ótimas ferramentas para te ajudar a manter o controle das metas alcançadas.
3
MANTENHA O AUTOCUIDADO
Em terceiro lugar, mantenha o autocuidado: sim, estou falando diretamente com você, que não penteia o cabelo há 1 semana.
O autocuidado está diretamente relacionado ao nosso amor próprio, e quando paramos de nos dar atenção, estamos implicitamente dizendo ao nosso cérebro “eu não valho a pena”. Se arrume sim, não porque você vai sair, mas porque você merece esse carinho consigo próprio.
4
USE AS MÍDIAS E APLICATIVOS
PARA MANTER O CONVÍVIO SOCIAL
E, falando em pentear o cabelo, entramos na quarta estratégia, que é manter o convívio social de forma virtual: nem que seja assistir sua série na sala com seu gato, no lugar de no quarto, mas não se isole. Mesmo os que se encontram em quarentena pois foram infectados, mantenham o contato por chat, videochamada, troque memes com seu melhor amigo.
O ser humano é um ser social: conviver com outras pessoas é uma de nossas principais estratégias de sobrevivência, desde o tempo dos homens das cavernas. Aproveite a tecnologia disponível para te ajudar.
5
CUIDE DA SUA ALIMENTAÇÃO
Em quinto lugar, falemos um pouco da alimentação durante a quarentena: nossa tendência é procurar as “comidas de conforto”, ou seja, ricas em carboidratos e açúcares.
O problema não é consumir esse tipo de alimento, mas sim consumir apenas comidas ricas em carboidratos. Carboidratos são rapidamente metabolizados, ou seja, são fontes rápidas de energia, e causam um excitamento com a subida rápida de energia que fornecem. Todavia, após o consumo destes, temos o famoso efeito rebote: um aumento súbito seguido de uma queda súbita de energia.
É como injetar mais gasolina no carro para ter mais potência: funciona, mas a gasolina acaba bem mais rápido, e o que você faz? Isso mesmo, injeta mais “gasolina”, também conhecido como fazer um lanche, comer um salgadinho, fazer brigadeiro, entre outros.
Procure manter uma dieta equilibrada nos grupos alimentares; não estou pedindo para você “fazer dieta”, veja bem, mas sim para variar um pouco o feijão com arroz e bife do almoço.
6
MANTENHA-SE EM MOVIMENTO
Por último, mas não menos importante, mantenha-se em movimento: a não ser que você esteja doente, ficar o dia todo na cama não é nada bom para a sua saúde mental.
Evite realizar suas atividades diárias na cama: mude de ambiente, vá para a mesa da cozinha, levante e faça um carinho no gato, regue as plantas da sua mãe, troque a água do cachorro.
O importante é dar um intervalo no “ócio criativo” em que você está há 04 horas seguidas, ok?
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Falando assim parece muito fácil, né? Todavia, sei que não é tão simples quando parece lendo este texto. Principalmente para quem já tem problemas emocionais, ou pior, está em crise, simplesmente “criar uma rotina” parece uma tarefa impossível.
Então deixa eu te dar uma última dica: você sabia que nós, psicólogos, não paramos as atividades na quarentena? Isso mesmo, continuamos atendendo e estamos aqui, disponíveis para te ajudar a tentar domar seu cérebro, no conforto da sua casa.
Agende um horário comigo e vamos conversar 🙂
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